segunda-feira, 27 de março de 2017

Vamos falar de amamentação?


           O meu objetivo com esse texto é discutir o impacto da amamentação na vida das mães por meio de minha própria experiência. Uma das tarefas que mais idealizei com a maternidade foi a amamentação. Durante a gravidez planejei muito esse momento, pois desejava amamentar. Queria oferecer para meu filho o melhor, e o melhor, com certeza, é o leito materno.
            Frequentei palestras e pesquisei um pouco sobre o assunto. Sabia que tinha uma questão da pega (a criança deveria pegar de forma correta no bico, caso contrário, machucaria o peito), posições para amamentar, a importância do leite materno para a saúde da criança, além do vínculo mãe-bebê. Julgava ser complexo, mas pelos depoimentos que vi de outras mulheres, o início era difícil, mas com o tempo pegamos o jeito e o processo fica mais fácil, assim eu deveria estar preparada para não desistir. 
            De fato, enfrentei todos os empecilhos. Meu filho teve grande dificuldade de pegar o peito e as tentativas dele sugar acabaram ferindo o bico, assim, além da dificuldade eu sentia dor. A questão foi ficando mais séria quando meu bebê começou a ter uma perda significativa de peso. Ele nasceu um bebê grande, mas estava emagrecendo a cada dia.
            O primeiro pediatra que levei me orientou a continuar só com o peito e não oferecer nenhum tipo de complemento, muito menos a mamadeira, e me encaminhou para um programa de ajuda á amamentação. Recorri a esse programa, que de fato, foi muito útil. Com alguns encontros individuais, a enfermeira que me atendeu me orientou de forma bastante amigável e pacienciosa, o que fez com que eu conseguisse amamentar.
            O problema foi que todo esse tempo, meu filho foi perdendo muito peso, o que fez com que a segunda pediatra me orientasse a entrar com o complemento, além da amamentação. Tive muita resistência em utilizar o complemento. A primeira vez, quem deu a fórmula, foi meu marido, que já estava angustiado com a perda de peso do nosso bebê. Lembro-me que quando ele ofereceu o complemento me senti uma fracassada.  Era como se eu não conseguisse oferecer a nutrição para meu filho e sentia que o erro era todo meu.
            Aos poucos fui assimilando a entrada do complemento e assim, passei a amamentar no peito e com a mamadeira. A partir de então meu bebê passou a ganhar peso e desenvolver.
            Através dessa experiência refleti sobre como o discurso social sobre a amamentação, nos coloca em cheque diante da maternidade. É como se nos dissesse: “Se você não conseguir amamentar não será uma boa mãe”, “ se você não conseguir amamentar não construirá vínculo com seu filho”, “você deu a mamadeira? Cuidado para ele não largar seu peito”, “se você não amamentar seu filho terá diversas doenças”. Discursos como estes vão nos apavorando durante o momento em que estamos mais frágeis.
            Nem quero discutir a importância do leite materno, afinal a relevância do mesmo para a saúde da criança é inquestionável. Mas se por ventura a mãe não conseguir amamentar? Será que todas as mães, de fato, conseguem amamentar? A amamentação é um processo natural?
            Respondendo a última pergunta, não, a amamentação não é um processo natural, sendo assim, há sempre um risco da mãe ter dificuldades ou até mesmo não conseguir amamentar. Com isso quero dizer que, ao nascer, o bebê não vai sugar perfeitamente o peito da mãe, se alimentando de forma adequada. Esse bebê estava no útero, recebendo alimentação contínua da mãe, fazendo parte do corpo dela, de repente ele se separa desse corpo e deve se alimentar com ajuda da mãe e não mais através dela, assim, mãe e bebê têm muito que aprender juntos.
As campanhas incentivam as mães a amamentarem, porém, se esquecem de acolher essas mesmas mães quando precisam de ajuda, assim a naturalização da amamentação acaba não ajudando mães e bebês.
            No meu caso, estava sacrificando a saúde do meu filho para oferecer amamentação exclusiva, e só fui perceber meu exagero quando meu marido e a pediatra me chamaram a atenção. É claro que eu estava em um momento frágil e tinha perdido totalmente a noção da realidade, porém, percebo o quanto eu estava envolvida, exageradamente, com a necessidade de amamentar, principalmente para me afirmar como mãe, para não fracassar como mãe.
            Há mães que amamentam com facilidade, há mães que amamentam com dificuldade, há mães que não conseguem amamentar, porém nenhuma dessas possibilidades desqualifica a mãe, ao contrário, só faz provar que maternar é um caminho sem qualquer garantia, planejamos algo, mas muitas vezes, nos frustramos e mesmo assim, devemos seguir em frente.
            Amamentar é um ato de amor, por isso a maioria das mães tenta, mas nem todas conseguem e mesmo diante do fracasso, o amor persiste.








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