quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Filhos de quem?

Atualmente a queixa, mas comum que se houve dos pais, é o quanto está sendo difícil colocar limites em seus filhos. Será que a questão está com as crianças de hoje em dia, ou com os pais de hoje em dia?
            Na busca de uma solução para crianças “problemáticas”, pais vêem buscando, cada dia mais, a ajuda de profissionais especializados. Pode dar um jeito no meu filho para mim? Parece essa a solicitação que os pais, não tão diretamente, fazem aos profissionais. O mais delicado, em minha opinião, não é tanto esta solicitação feita por pais angustiados com os sintomas de seus filhos, mas sim, que esses profissionais aceitem esse pedido.
            Alguns profissionais parecem atender integralmente o pedido dos pais e dessa forma, assumem uma missão que na verdade é de responsabilidade dos próprios pais. Profissionais de diversas áreas do saber estão se responsabilizando em educar as crianças “deseducadas”, estão se propondo a ensinar os pais a serem pais. Mas isso é possível?        
Admito que realmente existam pais que estão destituídos em sua função, e que de fato, não sabem o que fazer, o que acarreta conseqüências drásticas no meio familiar. Mas será que ensinar pais a serem pais, não reforça ainda mais a destituição destes em sua função?
            Acredito que a intervenção adequada de profissionais que lidam com crianças e seus pais, é colaborar com os pais, de forma que se sintam verdadeiramente pais, seguros em tomar decisões em relação a seus filhos, que consigam escutar seus filhos e entender a mensagem que estas crianças estão querendo passar, que possam dialogar com seus filhos sem precisar de um terceiro para intermediar esta relação.
            Pais sejam simplesmente pais! É claro que faz parte da função dos pais, o questionamento sobre a intervenção sobre os filhos, na busca correta da forma de agir. Mas o erro faz parte desta missão! Toda grande missão está sujeita a grandes erros e quando falamos sobre a missão de ser pai e mãe estamos falando de uma das mais importantes missões que existem. Estamos falando da missão de formar um sujeito para o mundo! E que bela missão é esta! Quando precisarem de ajuda busquem, não há nada de errado nisso, mas não permitam que ninguém saiba mais sobre seus filhos do que vocês mesmos.






terça-feira, 25 de agosto de 2015

Vamos falar de crianças?

Muitos saberes científicos, como a psicologia, a pedagogia, a medicina, etc, se interrogam sobre a condição da criança. Afinal, o que é normal? Que comportamento podemos considerar adequado para uma criança de uma determinada idade?
            A criança nem sempre teve tanto realce social, como atualmente. De fato, a criança passa a ser percebida socialmente, a partir da modernidade, antes disso, ela não tinha qualquer importância ou destaque, ninguém se questionava sobre as crianças. A partir do surgimento da família moderna, a criança passa a ser considerada como um ser que precisa de cuidados especiais, não apenas dos pais, como também do Estado e da sociedade.
            A escolarização das crianças é determinada, pela nova condição adquirida pela infância na modernidade. A escola moderna vai delineando a aprendizagem, os hábitos, as normas e os afazeres que correspondem a cada idade. O discurso pedagógico ganha, desta forma, toda a sua força e seu poder.
            A criança passa a ser observada, analisada, avaliada e classificada. O discurso científico se debruça sobre a criança, em uma tentativa de produzir conhecimento e saberes sobre a mesma. A criança se tornou, assim, foco das especialidades. A psicologia fala sobre crianças, a pedagogia fala sobre crianças, a medicina fala sobre crianças.
            Na contra mão do saber científico, proponho: vamos falar de crianças? Ou seja, vamos interrogá-la? A interrogação, nesse caso, deve ser enfatizada. Desta maneira, proponho uma discussão sobre questões relacionadas às crianças, a partir da minha experiência clínica com as mesmas e não a partir de uma especialidade sobre crianças. Eu não sei sobre as crianças, apenas converso com elas, as escuto. Também converso com os pais e também escuto as angústias deles, e a partir da escuta de pais e crianças, lido com as especificidades de cada caso. O lugar da minha escuta é ancorado na psicanálise.
            Os temas que proponho para discussão são pensados, a partir, de questões mais recorrentes, na minha prática clínica com crianças, mas não desqualifica a especificidade de cada caso, de cada criança e de cada família, assim:
            Vamos falar de crianças?