Sobre
o que escrever para o primeiro texto a ser publicado em 2016? Esta questão me
fez pensar muito sobre o tema que eu desejaria discutir e ainda melhor, que
tema as pessoas gostariam de ler. Na verdade essa é a parte mais difícil,
encaixar meu propósito de discussão com o interesse das pessoas que se
interessam em refletir sobre a condição da criança.
Para pensar sobre os temas, a minha maior inspiração,
acaba sendo meu trabalho clínico no consultório, me baseando na angústia das
pessoas, no sofrimento das crianças e nos questionamentos das famílias. Como já
mencionei algumas vezes me interesso em trazer uma demanda geral, que recebo no
consultório, sem, considerar a singularidade de cada caso, pois seria
impossível apreender essas especificidades.
Não quero reduzir os temas a serem discutidos neste ano a
um só, porém não posso desconsiderar uma questão que há muito vem me inquietado
e que pretendo trazer para discussão muitas vezes. Esse tema se refere às
queixas escolares. Com certeza o maior número de encaminhamento que recebo para
atendimento de crianças tem a ver com alguma queixa escolar, seja ela,
problemas de aprendizagem, seja ela, problemas de comportamento.
Recentemente,
a mãe de uma criança encaminhada para atendimento pela escola, me fez um relato
realmente assustador. Ela mencionou que a criança ainda não estava frequentando
a educação infantil, porém no dia em que a mãe foi fazer a matrícula da criança
na escolinha, um momento de extrema importância, pois se tratava da matrícula
que representava a entrada da criança na escola, por coincidência, a
coordenadora pedagógica da escola estava presente e observando o comportamento
da criança na hora da matrícula, ela já sugeriu que a mãe levasse o filho ao
psicólogo, sem nem mesmo conhecer a criança, apenas baseada em um comportamento
manifesto.
Considerei esse encaminhamento o mais bizarro que já
recebi de uma escola. Classifico a intervenção dessa coordenadora como
absolutamente preconceituosa, assustadora e antiética. Afinal, no que as
escolas estão se transformando? Cada dia fico mais assustada com a atuação da
equipe escolar, mas em contrapartida, também não posso desconsiderar a atuação
de algumas professoras que classifico como admirável e exemplar e que fazem
toda diferença na vida de uma criança, mas, infelizmente, essas professoras não
têm liberdade de exercerem seu ofício, pois precisam estar engessadas em uma
burocracia educacional que privilegia um sistema em detrimento da criança.
Recentemente reli a política de inclusão do ministério da
educação. Para os profissionais da área da educação, considero esse material, precioso
e acho interessante que todos possam ler. O olhar que a política propõe, para
lidar com o sujeito, é realmente relevante no sentido que não só os aspectos
físico, biológico e manifesto devem ser levados em consideração, assim como, os
aspectos psíquicos, subjetivos e latentes que, na maioria das vezes, são
desconsiderados. Porém me questiono sobre o fato do lugar que essa política vem
ocupando na escola, pois, esse mesmo ministério que produziu um material tão
útil para inclusão, ao mesmo tempo cobra das instituições escolares, números,
estatísticas, diagnósticos e desempenho de professores e alunos,
desconsiderando o contexto específico dos mesmos.
Que lugar estamos proporcionando para nossas crianças nas
escolas? Como oferecer para essas crianças uma educação em que a subjetividade
possa ser considerada sem correr o risco de produzir uma educação automatizada
que não causa qualquer significação para a criança?
Nem toda criança é boa em matemática. Nem toda criança é
boa em português. Tem toda criança gosta de educação física. Nem toda criança
gosta de participar da aula. Nem toda criança para quieta. Nem toda criança
gosta de conversar. Nem toda criança gosta de ler. Nem toda criança...
As crianças são diferentes e o papel da escola é
justamente considerar essa diferença e não tentar uniformizar o comportamento
infantil. Alguns aspectos da personalidade da criança podem ser desenvolvidos
com a intervenção escolar, mas a escola só poderá intervir se conhecer e
considerar o aluno, a criança, o sujeito.
Qual a melhor forma para alguém ter sucesso na vida? Eu
me ariscaria em responder: seja você mesmo e é isso que acho que as escolas
deveriam ensinar para as crianças e não o contrário: “se você for você mesmo,
será um fracassado”.
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