segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Como ajudar a criança a lidar com o medo?


Sentir medo na infância é normal e recorrente. Muitas crianças sentem medo de dormir sozinha, ir ao banheiro durante a noite, ir à cozinha pegar um copo de água, dormir na casa de um amigo sem os pais, medo de ir à escola.
            Cada caso de medo deve ser analisado individualmente, mas podemos discutir sobre alguns medos que são normais as crianças sentirem, principalmente na saída da primeira infância, a partir dos seis anos.
            A partir dos seis anos a criança começa a enfrentar situações que exigem maior independência. Ela já passou pela fase do desfralde, desmame, toma banho sozinha, come sozinha, dorme sozinha, entra na escola sozinha, enfim, várias ações de independência já se manifestam.
            É nesse momento que, muitas vezes, a criança manifesta comportamentos de medo. De repente, ela que dormia sozinha, tem medo, que tomava banho sozinha, tem medo, que entrava na escola sem problemas, começa a chorar, espera companhia para pegar um copo de água na cozinha. Os pais, normalmente, estranham esse comportamento e temem que algo de sério possa estar acontecendo com a criança.
            Nessa fase, em que a criança se dá conta que ela já tem condições de fazer muitas coisas sozinhas, o sintoma de medo pode surgir para que, dessa forma, ela possa chamar a companhia dos pais. Se a criança sente medo para dormir, ela tenta dormir com os pais, se tem medo de ir à escola, ela tenta ficar em casa, se tem medo de fazer algo sozinha, espera ter a companhia dos pais.
            Ter a sensação de que temos que enfrentar algumas situações sozinhos, pode causar, realmente, medo e insegurança. Serei capaz de conseguir? Como enfrentar algo sozinho? Adultos sentem essa dificuldade, imagine as crianças.
            Como adultos devemos ajudar as crianças a enfrentar essas situações.
            Pois é, muitas vezes o medo deve ser enfrentado. Temos a tendência de fazer pela criança quando ela sente medo, devemos ajudá-la, mas não fazer por ela.
            Devemos mostrar que o sentimento de medo é normal, eu sinto medo, você sente medo, não é mesmo? Assim sendo, ela tem todo o direito de sentir medo, mas assim como nós, deve enfrentá-lo.
            Alguns medos eu posso até evitar, como exemplo, medo de cavalo, medo de trem da alegria, outros ficam mais difíceis, como medo de ir à escola, medo de dormir sozinho.
            Ajudar a criança a enfrentar o medo, é sinalizar a ela, que tem condições de enfrentar e quando a criança consegue, ela se sente mais segura e confiante.
            Quando a criança não consegue dormir sozinha no quarto dela, podemos ajudá-la, temporariamente, a dormir no quarto fazendo companhia, deixando um abajur ligado, deixando fazer alguma leitura até pegar no sono, permitindo dormir com algum boneco e aos poucos, devemos sinalizar que ela tem condições de fazer sozinha.
            Devemos, também, estar atentos para que nossos próprios medos não estejam afetando a criança. Se eu não consigo lidar com meus próprios medos, provavelmente, irei afetar meu filho. Se for uma mãe e um pai que tenha medo que o filho faça qualquer coisa, esse medo afetará essa criança. Assim sendo, o melhor a fazer é tratar o próprio medo, para que dessa forma, tenha condições de ajudar a criança.

             

segunda-feira, 27 de março de 2017

Vamos falar de amamentação?


           O meu objetivo com esse texto é discutir o impacto da amamentação na vida das mães por meio de minha própria experiência. Uma das tarefas que mais idealizei com a maternidade foi a amamentação. Durante a gravidez planejei muito esse momento, pois desejava amamentar. Queria oferecer para meu filho o melhor, e o melhor, com certeza, é o leito materno.
            Frequentei palestras e pesquisei um pouco sobre o assunto. Sabia que tinha uma questão da pega (a criança deveria pegar de forma correta no bico, caso contrário, machucaria o peito), posições para amamentar, a importância do leite materno para a saúde da criança, além do vínculo mãe-bebê. Julgava ser complexo, mas pelos depoimentos que vi de outras mulheres, o início era difícil, mas com o tempo pegamos o jeito e o processo fica mais fácil, assim eu deveria estar preparada para não desistir. 
            De fato, enfrentei todos os empecilhos. Meu filho teve grande dificuldade de pegar o peito e as tentativas dele sugar acabaram ferindo o bico, assim, além da dificuldade eu sentia dor. A questão foi ficando mais séria quando meu bebê começou a ter uma perda significativa de peso. Ele nasceu um bebê grande, mas estava emagrecendo a cada dia.
            O primeiro pediatra que levei me orientou a continuar só com o peito e não oferecer nenhum tipo de complemento, muito menos a mamadeira, e me encaminhou para um programa de ajuda á amamentação. Recorri a esse programa, que de fato, foi muito útil. Com alguns encontros individuais, a enfermeira que me atendeu me orientou de forma bastante amigável e pacienciosa, o que fez com que eu conseguisse amamentar.
            O problema foi que todo esse tempo, meu filho foi perdendo muito peso, o que fez com que a segunda pediatra me orientasse a entrar com o complemento, além da amamentação. Tive muita resistência em utilizar o complemento. A primeira vez, quem deu a fórmula, foi meu marido, que já estava angustiado com a perda de peso do nosso bebê. Lembro-me que quando ele ofereceu o complemento me senti uma fracassada.  Era como se eu não conseguisse oferecer a nutrição para meu filho e sentia que o erro era todo meu.
            Aos poucos fui assimilando a entrada do complemento e assim, passei a amamentar no peito e com a mamadeira. A partir de então meu bebê passou a ganhar peso e desenvolver.
            Através dessa experiência refleti sobre como o discurso social sobre a amamentação, nos coloca em cheque diante da maternidade. É como se nos dissesse: “Se você não conseguir amamentar não será uma boa mãe”, “ se você não conseguir amamentar não construirá vínculo com seu filho”, “você deu a mamadeira? Cuidado para ele não largar seu peito”, “se você não amamentar seu filho terá diversas doenças”. Discursos como estes vão nos apavorando durante o momento em que estamos mais frágeis.
            Nem quero discutir a importância do leite materno, afinal a relevância do mesmo para a saúde da criança é inquestionável. Mas se por ventura a mãe não conseguir amamentar? Será que todas as mães, de fato, conseguem amamentar? A amamentação é um processo natural?
            Respondendo a última pergunta, não, a amamentação não é um processo natural, sendo assim, há sempre um risco da mãe ter dificuldades ou até mesmo não conseguir amamentar. Com isso quero dizer que, ao nascer, o bebê não vai sugar perfeitamente o peito da mãe, se alimentando de forma adequada. Esse bebê estava no útero, recebendo alimentação contínua da mãe, fazendo parte do corpo dela, de repente ele se separa desse corpo e deve se alimentar com ajuda da mãe e não mais através dela, assim, mãe e bebê têm muito que aprender juntos.
As campanhas incentivam as mães a amamentarem, porém, se esquecem de acolher essas mesmas mães quando precisam de ajuda, assim a naturalização da amamentação acaba não ajudando mães e bebês.
            No meu caso, estava sacrificando a saúde do meu filho para oferecer amamentação exclusiva, e só fui perceber meu exagero quando meu marido e a pediatra me chamaram a atenção. É claro que eu estava em um momento frágil e tinha perdido totalmente a noção da realidade, porém, percebo o quanto eu estava envolvida, exageradamente, com a necessidade de amamentar, principalmente para me afirmar como mãe, para não fracassar como mãe.
            Há mães que amamentam com facilidade, há mães que amamentam com dificuldade, há mães que não conseguem amamentar, porém nenhuma dessas possibilidades desqualifica a mãe, ao contrário, só faz provar que maternar é um caminho sem qualquer garantia, planejamos algo, mas muitas vezes, nos frustramos e mesmo assim, devemos seguir em frente.
            Amamentar é um ato de amor, por isso a maioria das mães tenta, mas nem todas conseguem e mesmo diante do fracasso, o amor persiste.








Adolescência

               A adolescência é período de intensas e importantes mudanças. Mesmo quando tudo vai bem, ainda sim, é um período difícil e caótico. O adolescente deixa o período da infância e caminha em direção à vida adulta. Momento em que ele deve fazer escolhas, ter posicionamentos, e vivenciar as primeiras experiências da vida adulta como o trabalho e relacionamentos amorosos.
         É um período importante para a formação de identidade. O adolescente se distancia da referência familiar para se aproximar de referências exteriores. Período em que procuram ídolos, pessoas do exterior para se identificarem.
            Os pais estranham muito esse momento. O filho que tinha os pais como ídolos agora não quer saber mais da presença dos mesmos, quer apenas a presença dos amigos e acham a opinião dos pais antiquada. De fato é um momento difícil para os pais, pois eles vão se dando conta do distanciamento de seus filhos, distanciamento necessário, pois os filhos nasceram para terem suas próprias vidas e não para ser uma extensão de seus pais.
            Para lidar com a adolescência dos filhos os pais devem lidar com a própria adolescência. Devem entender que o momento que vivenciaram a adolescência foi absolutamente diferente de seus filhos e não adianta insistirem nas comparações. O momento atual deve ser considerado, afinal, o mundo muda, a sociedade muda, as pessoas mudam. Isso não significa que levar em consideração o momento presente você não determinará limites para seus filhos adolescentes. Sim, os adolescentes precisam de limites, afinal, ainda não são adultos e não podem responder pelos seus próprios atos. Os limites também significa saber trabalhar com responsabilidade, assim limite de horário, de dinheiro, dentre outros, ajuda o adolescente a lidar com responsabilidade.
            O adolescente deve entender que liberdade está relacionada com responsabilidade. Que a partir do momento que assumimos fazer algo por nossa conta, devemos assumir também, a responsabilidade, assim sendo, é importante que o adulto dê suporte ao adolescente para enfrentar as responsabilidades.
            Muitos adolescentes acabam carregando sintomas fóbicos em relação a esse período de descolamento da família. Eles têm medo de sair de casa, ir à escola e resolver problemas sozinhos e isso é muito ruim para os jovens. Os pais devem incentivar o adolescente a assumir tarefas e prepara-los para a vida adulta.
            Muitos pais cobram responsabilidade de seus filhos adolescentes, cobram que se lembrem dos compromissos sozinhos, que arrumem o quarto e que tenham atitudes mais maduras, porém, em contrapartida, não deixam o filho sair de casa sozinho, pegar um ônibus, ir ao cinema com os colegas, ou frequentar a casa de um amigo. Percebam que essa atitude é totalmente contraditória? Como posso cobrar sem oferecer?
            Outro cuidado que devemos tomar é não medicar a adolescência. Muitos conflitos relacionados a essa fase são olhados como “patológicos” e “anormais”, porém, eu encararia muito mais como conflitos típicos à adolescência. Apesar de serem típicos e normais não devemos desconsiderar o sofrimento do adolescente e ainda a dificuldade da família em lidar com tais conflitos. Sendo assim, o mais indicado seria psicoterapia para o adolescente concomitantemente ao acompanhamento familiar. Assim não devemos transformar a adolescência em doença, mas sim considerar os conflitos que rondam esse período.

            A psicanalista francesa, Françoise Dolto, compara a adolescência a passagem de uma margem de um rio à outra margem. Sendo assim, o adolescente precisa de suporte para enfrentar esse momento, para fazer essa passagem, de modo que cheguem do outro lado, preparados para enfrentar as vicissitudes da vida adulta.  

sábado, 25 de março de 2017

Sobre os pais

          Com a aproximação do dia dos pais, aproveito para falar sobre a importância dessa função na vida dos pequeninos.
            A função paterna, assim como a materna, é de extrema relevância para a formação emocional e psíquica das crianças. Essa função pode ser exercida pelo pai biológico ou por qualquer outra figura que se disponha a isso. Eu, particularmente, gosto sempre de ouvir os pais no consultório, saber a opinião que eles têm sobre a criança, como costumam proceder com ela, ou até mesmo, perceber que, muitas vezes, são ausentes e acabam por delegar toda responsabilidade da criança para a mãe. A mãe, por sua vez, assume totalmente a responsabilidade e pouco requisita o pai. Se os pais soubessem a importância de sua função jamais se afastariam.
            Quando nasce o bebê, a mãe fica absolutamente envolvida com o nascimento dessa criança, afinal, a maioria dos cuidados iniciais depende dela, como exemplo, a amamentação. Porém, a importância dos pais já pode ser registrada já no início ao proporcionar um ambiente tranquilo e com os recursos necessários para a relação mãe- bebê. A participação também é válida como dar banho, trocar fraldas, ninar a criança, assim, já mantendo o contato com seu pequeno ser e já se mostrando presente, afinal, não existe só a mamãe e posteriormente é, justamente, essa a função primordial do pai, mostrar para o bebê que não existe só a mamãe, assim como, mostrar para a mãe que existe um mundo além do bebê, em uma função de desalienar a relação mãe-filho.
            O pai vai chamando a mãe para o mundo, para outras funções que a mulher deve exercer além da maternidade. Esse momento é muito difícil para a mulher e ter o apoio e incentivo de seu companheiro é essencial. Ela pode deixar o bebê porque o pai, vai cuidar, vai zelar, e vai amar tanto quanto ela.
            Os pais também adoram apresentar o mundo para os bebês. Muitas vezes as mães estão tão tomadas com os cuidados com a criança que acabam não tendo disposição e energia para isso. Os pais brincam, mostram os animaizinhos no livro, no zoológico, dão piruetas no ar com a criança, vão à pracinha e deixam a criança rolar na areia, rolar na grama, descer do escorregador e fazer algumas peraltices. Outra vantagem dos pais, eles são mais ousados que as mães. Eles deixam coisas que as mães jamais deixariam. Eles ensinam manobras na bicicleta, pulos ousados na piscina, cambalhotas na grama, deixam as crianças se soltarem mais nos brinquedos e também se virarem nas relações com outras crianças.
            Os pais sabem que os filhos devem encarar o mundo, deixam o filho sair sem blusa para ele passar frio e aprender a lição. Os pais são grandes formadores de sujeitos para o mundo. Costumam mimar menos as crianças, costumam cobrar mais responsabilidade, revelam para a criança que o mundo tem limites e que ela terá que lidar com isso. Apresentar o mundo além do lar é uma importante função paterna. A função de acolher é tão importante quanto a função de liberar a criança e ensiná-la a alcançar voos mais altos.
            A função paterna pode ser exercida por qualquer figura, seja ela masculina ou feminina, porém o que é inegável é a importância dessa função para as crianças. Elas precisam de pais, precisam de incentivos, precisam ser preparadas para ser um sujeito adulto, independente e disposto a ir onde for necessário para realizar seus sonhos.
            Para os pais que estão exercendo sua função de forma discreta eu diria para que não percam mais tempo, participem da vida de seus filhos o quanto antes, não permita que ninguém faça essa importante função em seu lugar. E para as mães eu diria: deixem os pais participarem. Pai não faz as coisas como mãe. Não prepara a comida do mesmo jeito, não dá banho do mesmo jeito, e não repreende da mesma forma, mas aí está, justamente, a importância da questão, a diferença. Pais e mães são diferentes, lidam com a criança de forma diferente e essa diferença só tem a contribuir. Onde a mãe falha o pai entra, onde o pai falha a mãe entra e assim se faz a riqueza dessa relação. 
            Aos pais, um feliz dia e mais do que isso, disposição para essa importante missão.
           


Meu filho não se concentra!

Na maioria dos encaminhamentos de crianças para atendimento psicológico, feito pela escola, a falta de concentração é um dos destaques ao lado da agitação. Muitos relatórios destacam que a criança não consegue se concentrar, tem pressa para fazer a lição, e não consegue realizar as atividades até o final.
            O que acho mais interessante nessas queixas, é que os profissionais da escola relatam a concentração de forma tão simples, que parece muito fácil ser adquirido. Você acha fácil se concentrar? Quando você está lendo um texto de difícil entendimento e interpretação você consegue apreender imediatamente o sentido do texto? Você faz isso rapidamente? Ou quando você percebe seu pensamento já percorreu todos os lugares e se distanciou, absolutamente, do texto?
            Pois é, a concentração não é algo simples a ser adquirido. Se concentrar é difícil e exige esforço, um tremendo esforço, principalmente para uma geração que pouco precisa exercer essa habilidade, pois a vida moderna está muito mais volátil. As informações mudam numa velocidade alucinante, por influencia da internet.
            Quando eu era criança para fazer um trabalho escolar, ou eu me utilizava das duas coleções de enciclopédias disponíveis na minha casa, Barsa e Mundo da Criança, mas devido às informações restritas, o mais comum era que eu recorresse a uma visita à biblioteca municipal. Na minha época ter uma carteirinha da biblioteca era obrigatório, uma hora ou outra, necessitávamos recorrer aos inúmeros livros disponíveis por lá. Normalmente a bibliotecária separava vários livros com o tema a ser pesquisado e cabia a nós, ler partes dos livros, fazer um resumo de cada parte, anotar todas as referências e depois compor um texto com todas essas informações. Podemos afirmar que fazer um trabalho de escola era um bom exercício de concentração. Para fazer um trabalho escolar, hoje em dia, encontramos as informações absolutamente acessíveis na internet, nem precisamos sair de casa.
            Com esses argumentos, não quero dizer que a internet é uma ferramenta negativa. Ao contrário, acho que a tecnologia está disponível para facilitar nossas vidas e não quero ter um discurso saudosista em que valorizo o passado em detrimento ao presente. Porém, não posso negar que as mudanças têm efeitos sobre a subjetividade, efeitos sobre como as pessoas agem e se comportam. Em um percurso histórico sobre o papel social da criança já podemos notar que em cada período histórico a criança tinha uma função distinta. Sem sombra de dúvidas a vida moderna oferece um grande destaque para a criança, em que ela passa a ser objeto de questionamentos e pesquisas.
            O comportamento infantil vem sendo alvo de estudos constantes e tem transformado a criança em um laboratório experimental, o que faz com que o comportamento infantil sempre tenha uma classificação.
            O que pretendo chamar atenção é que a criança é efeito de um tempo social, efeito de sua família e também da relação com a escola. A criança é um ser imaturo, em desenvolvimento, e certas classificações ainda são muito precoces para um ser que ainda tem muito a aprender e apreender, tanto emocionalmente, quanto cognitivamente.
            Por isso, pais e professores, cuidado! Cuidado para não cair na tentação de classificar seu filho e/ou aluno. Cuidado para não ter que sempre encontrar uma justificativa para o comportamento da criança. A criança não nasce sabendo, não nasce com as habilidades necessárias. Ela precisa se desenvolver, aprender e principalmente receber a ajuda de um adulto, de uma pessoa mais madura e com maiores habilidades do que ela.
            Que possamos proteger, ajudar e orientar mais nossas crianças e classificar, diagnosticar e enquadrar menos. Que as crianças possam ser cada vez mais crianças. Que possam brincar e que tenham o direito de não conseguir, de sentir dificuldade, de não conseguir se concentrar. Cabe a nós, adultos, ajudá-las nesse sentido e ajudar não é, definitivamente, classificar.
           



O que você espera do seu filho?

            Uma grande dificuldade que os pais têm é lidar com o filho ideal e o filho real. Se deparar com o filho real é muito difícil e os pais insistem que a criança chegue o mais perto possível do filho ideal.
            Pais que idealizam um filho estudioso, mas que na realidade não gosta de estudar, pais que idealizam um filho generoso, mas que na realidade é egoísta, pais que idealizam um filho obediente, mas que na realidade é desafiador, pais que devem lidar com o descompasso do ideal com o real.
            Conversando com os pais, percebo muitas vezes, que na verdade, a queixa que formulam sobre os filhos é mais um incômodo para eles do que para a própria criança ou adolescente. Dizem: “ele não gosta de estudar”, “ele é desorganizado”, “ele não aceita regras”, “ele não faz a lição”. Diante da queixa dos pais, sempre me questiono, esta queixa legitima uma psicoterapia ou esses pais querem que eu transforme essa criança no filho ideal? É claro que boa parte da resposta para esse questionamento é a criança que nos oferece, revelando seu real sofrimento, muitas vezes, ela não se identifica com a queixa dos pais.
            Os pais têm a difícil missão de entender que aquela criança não é uma extensão deles, não é um braço ou uma perna deles, aquela criança é um sujeito em devir, é um homem ou mulher em formação e isso não é ruim nem bom, isso é apenas prova de que aquele pequeno sujeito já dá mostras de sua individualidade.
            A função dos pais é, sobretudo, educar esse pequeno ser para que possa dar conta de sua vida adulta, mas isso não significa que nesse processo a criança irá fazer tudo igual aos pais, tudo da forma que esperavam.
            Muitas vezes, as crianças revelam aos pais, o furo que há neles mesmos. Um furo que eles passaram a vida toda tamponando, mas que agora, com a presença do filho, não tem como esconder, pois o filho insiste em mostrar que ele não consegue corresponder ao que os pais esperam dele e, na maioria das vezes, essa é a reação mais saudável que a criança pode oferecer.
            A tarefa de aceitação e acolhimento da personalidade e individualidade do filho, reconheço, não ser nada fácil. Principalmente no momento em que eles entram na adolescência e que, de fato, passam a fazer escolhas, essa questão se torna ainda mais conflitava. Porém, é muito mais saudável ter filhos que fazem escolhas, mesmo que diferentes da sua, ou até mesmo equivocadas, do que filhos que simplesmente não escolhem, que se paralisam diante da vida, que não tomam iniciativas, e que permanecem dependentes de seus pais.
            Atendo alguns adolescentes que sofrem muito com esse momento de desligamento dos pais. Não conseguem caminhar com as próprias pernas, têm muito medo de contrariar, não arriscam fazer escolhas. Sofrem muito por isso, sofrem muito em imaginar que a vida adulta se aproxima e que eles terão que viver suas vidas sem tutela, por sua própria conta e risco. O medo os apavora, o medo causa um verdadeiro estado de fobia e paralisia. Têm ataques de pânico, medo de sair de casa, medo de ficar em público, medo de viver suas próprias vidas.
            Sabemos que, como pais, fizemos nosso melhor papel, quando podemos vislumbrar nosso filho dando conta da própria vida, assim podemos ter certeza, que fizemos nossa parte, tudo deu certo. Mas, para que tudo dê certo, cabe a nós, aceitar o fato de que a criança será um adulto, o adolescente deve fazer escolhas para que a vida adulta possa ser realizada e feliz. Feliz para ele, não para você.




            

Ser mãe...

                 Esse texto vai para todas as mamães que no próximo domingo vão almoçar com seus filhos caracterizando quase, o único dia do ano, que nos aproximamos da perfeição da família Doriana. Filhos amando mães, mães amando filhos, todos juntos e felizes, porém, a realidade, o dia a dia, não é bem assim. Encarar a maternidade é uma missão que os marqueteiros do dia das mães e as páginas sociais do facebook, vendem como linda e romântica, quase que perfeita, porém, é cheia de dilemas.
            Todos os dias, estou em contato com famílias, papais e mamães, cheios de angustias, incertezas, e eu diria até, algumas vezes, desesperados. Os pais, assim como as mães, merecem destaque para nossas reflexões, porém, deixarei essa discussão para outro post.
            Quando desejamos ser mães criamos uma série de expectativas em relação a essa experiência. Uma linda barriga, um lindo bebê, um lindo quarto de bebê, um bebê bonzinho, uma menina boazinha, um menino inteligente, crianças espertas e criativas, assim serão meus filhos. Eles sempre vão me obedecer, quando eu disser para ir tomar banho, eles não irão ser birrentos como essas crianças por aí. Quando eu me recusar a comprar algo no supermercado, eles irão entender, assim serão meus filhos, porque conseguirei cria-los adequadamente. E de repente, a realidade se impõe. Essa realidade que não coloca refresco nas coisas, essa realidade que não está interessada em saber sua opinião, essa realidade que entra como um tsunami em sua vida, sem pedir licença, essa realidade que não tem o mínimo de delicadeza.
            A menina não é nada delicada, tem ruim comportamento, fala grosserias, gosta de futebol e bate nos meninos na escola. O menino é birrento, não aceita ser contrariado, quer ficar o tempo todo no colo da mãe e dá muito trabalho para comer. E assim os filhos vão contrariando os pais e quando mais eles percebem que os pais se irritam, mais eles contrariam. Eles querem ser aceitos e amados como são, como se quisessem dizer: “olha pra mim, eu sou assim, não consigo ser de outro jeito, você pode me amar do jeito que eu sou”?
            Escrevendo esse texto me ocorreu uma cena que aconteceu comigo recentemente. Encontrei a mãe de uma antiga pequena paciente na fila do supermercado com os dois filhos. Ela me cumprimentou e diante da cena das crianças aprontando todas na fila, ela me disse: “eu queria tanto ser mãe, fiz de tudo para engravidar, mas se eu soubesse que era assim, teria desistido”. Triste confissão de uma mãe desesperada que precisa de cuidados, mais que os filhos, pois ela vive perseguindo tratamento para os filhos sem perceber que ela é quem precisa de ajuda.
            Sim, as mães precisam de ajuda, na maioria das vezes, elas precisam mais que os filhos, pois encarar essa missão não é algo simples e talvez seja isso que faça o fato de ser mãe uma missão tão arriscada e bonita.
            Ser mãe é abdicar, é não saber o que fazer, mas fazer assim mesmo. É amar uma criaturinha simplesmente por ser seu filho, é entender, acolher, dar aquele colinho que faz toda a diferença. É não dormir a noite e ter que cozinhar mesmo não gostando. É se preocupar constantemente, é sentir saudades e a dor da separação, é lidar com angustia de que o filho está fazendo uma escolha diferente de você.
            Ser mãe é cuidar de alguém que você não tem posse, de alguém que vai sair de perto e fazer as próprias escolhas, e a única coisa de te resta, é olhar de longe e torcer para dar tudo certo, mas se der errado, o seu colo estará sempre disponível para acolher seu filho.
            Para ser mãe não temos garantias, manual de instrução, passo a passo, a experiência é na raça mesmo. E como os filhos ensinam suas mães! Como os filhos mostram que você é cheio de defeitos, impaciente, perfeccionista, exigente, sempre quer levar vantagem, fura fila e joga papel no chão. Opa, agora eu tenho um filho, não posso ser mais assim, tenho que dar o exemplo, tenho que ser melhor, não perfeito, mas melhor. E quando eu não consegui, posso vencer meu orgulho e dizer: “desculpa filho”.
            A maternidade é uma experiência transformadora. Ela não precisa ser vivenciada por todas as mulheres e acho que é de muito bom senso aquelas que não querem vivenciar, afinal, elas querem poupar o pequeno ser de uma experiência na qual elas não estão disponíveis, o que fazem muito bem, afinal, para ser mãe é preciso desejar. Só desejar, apenas desejar, o resto a gente vai aprendendo dia após dia com os pequenos, a cada fase que eles passam, a cada ano que se finda, a cada dia das mães que se aproxima.
            A todas as mamães, parabéns, boa sorte, paciência, persistência, e fundamentalmente muito amor!

            Feliz dia das mães!