Aproveitando meu texto
da semana passada, em que eu discutia sobre a necessidade da criança fazer
psicoterapia, me fez pensar sobre a condição da criança nos dias de hoje. Tal
reflexão me deslocou para os tempos em que eu era criança e inevitavelmente, me
levou a uma comparação entre esses dois tempos.
Minha infância se passou nos anos 80, uma parte dela,
passei no interior do estado de Minas Gerais, outra parte no interior do estado
de São Paulo. Esse momento de minha vida foi muito proveitoso, cheia de
brincadeiras, amigos, travessuras, guloseimas de vó, aniversário na área de
serviço com bolo de brigadeiro feito pela mãe, com um design torno, e docinhos
que ajudávamos a enrolar e depois armazenávamos em várias caixas de camisas.
A rua era nosso ponto de encontro, a vizinhança toda se
encontrava lá, tanto os adultos, como as crianças. Os adultos conversavam e as
crianças brincavam. Não víamos o tempo passar. De vez em quando éramos
surpreendidos com algum lanche que minha mãe ou a mãe de outra criança
preparava pra gente. Ninguém perguntava o que a gente queria comer, mas mesmo
assim, devorámos tudo. Eu diria que o cenário de minha infância era bem feliz.
Porém, não quero dizer com isso que éramos menos traumatizados, menos
problemáticos, menos birrentos e menos chatos.
É claro que o cenário atual, com muita interferência da
tecnologia, faz com que as crianças de hoje, tenham uma realidade absolutamente
diferente para vivenciar a infância e acredito que essa diferença, tenha
consequências subjetivas, porém, não é esse o ponto que quero destacar. O ponto
que quero destacar é a diferença do olhar do adulto sobre a criança.
O olhar dos pais, que se diferencia nesses dois tempos,
tem a ver com certa influência tecnicista sobre a criança. O que quero dizer
com isso, é que me parece que o parecer técnico sobre a criança tem mais
importância do que o conhecimento dos pais sobre seus filhos. Na década de 80
se fazíamos uma birra, os pais se posicionavam de forma incisiva, se tínhamos
problemas na escola, contratavam o professor particular, se tínhamos algum medo
nos incentivavam a enfrentar. Nossos momentos de escolhas eram raros, pouco escolhíamos
sobre o que íamos comer, a hora que íamos dormir ou tomar banho, essas regras eram,
quase sempre, bem estabelecidas. E se não nos deixavam sair para brincar não
havia cristo que os convencia do contrário. O que quero mencionar com esses
exemplos é que os pais decidiam, sem medo, sobre a vida de seus filhos.
A comparação que faço com os dias de hoje é justamente a
insegurança que os pais têm em intervir com os filhos. Têm dificuldade em
estabelecer regras, limites e determinações. O campo das escolhas passou a
pertencer muito mais às crianças do que aos próprios adultos. Nesse sentido os
pais se sentem mais inseguros com os filhos, e todo comportamento da criança
passa a ser problemático ou até mesmo patológico, nesse sentido, o apoio de
algum profissional vem de encontro a angustia dos pais.
Através das queixas dos pais, no consultório, tenho a
sensação de que eles estão em busca da criança perfeita. Uma criança que não
faça birra, que não chore, que não tenha medo, que goste de comer brócolis, que
goste de ler, que tenha amigos e que não tenha ciúmes de seu irmão. O problema
é que todas essas demandas apresentadas, com certo desespero pelos pais, são na
verdade, demandas que eles mesmos devem lidar. As crianças são seres imperfeitos,
em formação, que precisam de suporte emocional para enfrentar cada etapa da
vida, esse suporte, imprescindivelmente, deve ser oferecido pelos pais e isso
se chama educação.
Quais caminhos os pais devem seguir para a educação de
seus filhos? O conselho que eu daria é: siga sua intuição, essa, não falha
nunca.