sábado, 25 de março de 2017

Sobre inclusão nas escolas: acolher para incluir

           


            O que quero de fato me referir com o verbo acolher tem a ver com a aceitação das diferenças. Muito do que ocorre nas escolas é incluir para acolher, ou seja, a criança é depositada na escola e a escola se empenha para que ela consiga, mais que possível, todos os recursos que as outras crianças têm.
            A política de inclusão, do ministério da educação, é um belo e importante material que nos ensina a refletir e praticar a inclusão, porém, ele está muito longe da nossa prática cotidiana nas escolas. O governo disponibiliza condições teóricas, mas não disponibiliza condições práticas e nem formação aos professores para que lindem com essa demanda.
            A inclusão é uma demanda de todos os professores e não apenas de professores especialistas em inclusão. A inclusão está presente em todos os campos da escola, principalmente essa inclusão que se refere às diferenças. Incluir é assumir e acolher as diferenças.
            A escola, em sua origem, não foi concebida para ser inclusiva, mas para ser instrumento de seleção e capacitação dos mais aptos. A escola cria um padrão, padroniza o comportamento e o processo cognitivo do sujeito, o que faz com que a escola funcione como um instrumento de classificação e seleção. Os sujeitos que não se encaixam no padrão que a escola impõe são considerados como sujeitos problemáticos, como se tivessem algum tipo de doença, transtorno ou deficiência.
            O mais complexo nessa relação entre escola e inclusão é que a definição de escola contradiz absolutamente à definição de inclusão. Com essa afirmação quero dizer que a escola, em sua origem, classifica, padroniza, uniformiza e a inclusão propõe exatamente o oposto no sentido de aceitar diferenças e promover a singularidade. Assim uma escola que se propõe a incluir deve rever os conceitos que definem a escola, pois uma escola que inclui não prioriza que todas as crianças sigam um mesmo percurso, mas oferece instrumentos para que as crianças possam seguir percursos diferentes, afinal, nem todos têm o mesmo recurso e habilidade.
            Em uma tentativa desesperada de a escola justificar comportamentos e até mesmo níveis de aprendizagem não padronizados, tudo é reduzido ao biológico. Assim, se uma criança não está alfabetizada, não consegue realizar as operações matemáticas, não lê adequadamente, não se comporta em sala de aula, não socializa, o caminho é investigar qual doença ela tem, desta maneira, os encaminhamentos médico-psicológicos se justificam. Assim sendo, razões como situações de opressão, miséria, violência em que as crianças estão inseridas é desconsiderada.
            A ênfase do comportamento infantil se faz por meio da conduta manifesta e não na estrutura que organiza e orienta a subjetividade. Admito que lidar com estas estruturas subjetivas são de grande custo e angustia, afinal, o campo da subjetividade é o campo da incerteza, porém, padronizar e enfatizar as estruturas objetivas não tem trazido benefícios para as crianças e é nesse sentido que a escola deve rever seus conceitos.

            Rever significa recolocar toda a estrutura institucional da escola de modo que as diferenças possam ser introduzidas para que a criança possa circular de forma autêntica, para que as dificuldades possam ser lidadas e não tratadas, para que o olhar seja direcionado para a criança e não ao comportamento dela. Rever significa que inclusão é acolher e lidar com as diferenças.

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