O
que quero de fato me referir com o verbo acolher tem a ver com a aceitação das
diferenças. Muito do que ocorre nas escolas é incluir para acolher, ou seja, a
criança é depositada na escola e a escola se empenha para que ela consiga, mais
que possível, todos os recursos que as outras crianças têm.
A política de inclusão, do
ministério da educação, é um belo e importante material que nos ensina a refletir
e praticar a inclusão, porém, ele está muito longe da nossa prática cotidiana
nas escolas. O governo disponibiliza condições teóricas, mas não disponibiliza
condições práticas e nem formação aos professores para que lindem com essa
demanda.
A inclusão é uma demanda de todos os
professores e não apenas de professores especialistas em inclusão. A inclusão
está presente em todos os campos da escola, principalmente essa inclusão que se
refere às diferenças. Incluir é assumir e acolher as diferenças.
A escola, em sua origem, não foi
concebida para ser inclusiva, mas para ser instrumento de seleção e capacitação
dos mais aptos. A escola cria um padrão, padroniza o comportamento e o processo
cognitivo do sujeito, o que faz com que a escola funcione como um instrumento
de classificação e seleção. Os sujeitos que não se encaixam no padrão que a
escola impõe são considerados como sujeitos problemáticos, como se tivessem
algum tipo de doença, transtorno ou deficiência.
O mais complexo nessa relação entre
escola e inclusão é que a definição de escola contradiz absolutamente à
definição de inclusão. Com essa afirmação quero dizer que a escola, em sua
origem, classifica, padroniza, uniformiza e a inclusão propõe exatamente o
oposto no sentido de aceitar diferenças e promover a singularidade. Assim uma
escola que se propõe a incluir deve rever os conceitos que definem a escola,
pois uma escola que inclui não prioriza que todas as crianças sigam um mesmo
percurso, mas oferece instrumentos para que as crianças possam seguir percursos
diferentes, afinal, nem todos têm o mesmo recurso e habilidade.
Em uma tentativa desesperada de a
escola justificar comportamentos e até mesmo níveis de aprendizagem não padronizados,
tudo é reduzido ao biológico. Assim, se uma criança não está alfabetizada, não
consegue realizar as operações matemáticas, não lê adequadamente, não se
comporta em sala de aula, não socializa, o caminho é investigar qual doença ela
tem, desta maneira, os encaminhamentos médico-psicológicos se justificam. Assim
sendo, razões como situações de opressão, miséria, violência em que as crianças
estão inseridas é desconsiderada.
A ênfase do comportamento infantil
se faz por meio da conduta manifesta e não na estrutura que organiza e orienta
a subjetividade. Admito que lidar com estas estruturas subjetivas são de grande
custo e angustia, afinal, o campo da subjetividade é o campo da incerteza,
porém, padronizar e enfatizar as estruturas objetivas não tem trazido
benefícios para as crianças e é nesse sentido que a escola deve rever seus
conceitos.
Rever significa recolocar toda a
estrutura institucional da escola de modo que as diferenças possam ser
introduzidas para que a criança possa circular de forma autêntica, para que as
dificuldades possam ser lidadas e não tratadas, para que o olhar seja
direcionado para a criança e não ao comportamento dela. Rever significa que
inclusão é acolher e lidar com as diferenças.
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