O encaminhamento para atendimento psicológico, pelo
convênio médico, deve ser feito através do diagnóstico de um médico, assim,
para alguém, utilizar desse serviço, o sujeito deve ter uma doença.
De forma geral, acho que o diagnóstico em saúde mental é
uma questão extremamente delicada. A saúde mental se caracteriza por aspectos
absolutamente subjetivos. O manual de diagnóstico de doenças mentais (DSM) é
baseado exclusivamente em sintomas. Assim, para um sujeito receber um
diagnóstico o médico irá avaliar se a pessoa tem o número de sintomas
suficientes que caracterizam tal transtorno mental. Não existem exames que
apontam o transtorno mental, o diagnóstico é feito apenas, mediante os
sintomas. Diante de tal cenário podemos avaliar a fragilidade em se fazer um
diagnóstico psiquiátrico.
Quando pensamos no diagnóstico em transtorno mental na
infância, a questão se torna ainda mais delicada por alguns motivos: a criança
é um sujeito em desenvolvimento, assim sendo, a estrutura psíquica de uma
criança pode ser definida como “não decidida”, assim: “Para estruturar-se
como sujeito, a criança depende irremediavelmente de um Outro sustentado por um
agente de linguagem, personagem que lhe nutrirá um desejo, dirigindo-lhe
demandas, o que propiciará o seu desenvolvimento”. (Petri, 2008:44)*.
Podemos caracterizar a infância como o tempo da
constituição subjetiva, período este, que finaliza na adolescência. Desta forma
o risco de engessarmos a criança em um período em que ela deve estar disponível
ao movimento, à transformação é, muitas vezes, comprometer muito mais o
processo de desenvolvimento do que contribuir.
No processo de subjetivação na infância, o lugar que ela
ocupa com os pais, no campo social, também caracteriza como fundamental para
esse momento. A criança é dita pelos seus pais, é dita pela escola, a criança
não diz sobre si mesma, assim, a partir do discurso do outro ela significa sua
subjetividade. Por esse motivo considero muito importante a atuação de
profissionais que lidam com crianças, seja ele do campo da educação ou do campo
da saúde. Não podemos atestar o fracasso da criança, ao contrário, devemos
proporcionar espaços e possibilidades, seja na família, seja na escola, em que
a criança possa se desenvolver de maneira saudável e segura.
Para finalizar menciono
uma vinheta clínica durante meu atendimento com uma criança:
Criança: Camila que
doença eu tenho?
Criança: Porque eu vou
a muitos médicos.
Eu: Você não é doente e
acho até que você nem precisa ir a muitos médicos. Eu te acho bastante
inteligente.
Criança: Você acha?
Será que a minha mãe acha?
Eu: Quer perguntar pra
ela? Podemos chamar ela aqui.
Criança: Quero sim!
A mãe entrou na sala de
atendimento e imediatamente a criança perguntou se ela o achava inteligente, ao
que a mãe respondeu que sim e ainda enfatizou, “muito”. Após um sorriso e
suspiro da criança, encerrei a sessão.
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