terça-feira, 8 de setembro de 2015

Violência Psiquiátrica

Ultimamente tenho me deparado com frequência, com reportagens e artigos, sobre o tema violência obstétrica, na qual, se caracteriza por uma apropriação do corpo e processo reprodutivo das mulheres pelos profissionais de saúde. Acredito que tal tema seja pertinente e importante para ser discutido, porém, o termo violência obstétrica me faz pensar sobre um outro termo, tão importante quanto, a violência psiquiátrica, que se caracteriza pela  apropriação do sofrimento psíquico de um sujeito, ou seja, eu, como profissional de saúde mental, tenho a cura para seu sofrimento psíquico, sei mais sobre seu sofrimento do que você.
            Muito nos deparamos com sujeitos excessivamente medicados com psicotrópicos, além de imposições de profissionais de diversas áreas da saúde mental, para modos de tratamento. Pessoas que, a cada ano que passa, mais são medicadas e por consequência são ainda mais dependentes dos remédios. E o sofrimento psíquico como fica? E a reflexão sobre esse sofrimento? Com o que ele tem a ver? Por que o sujeito sofre? O que o sofrimento tem a ver com o sujeito? Parece que, para estes sujeitos, o sofrimento emocional não tem nada a ver com eles, como se estivesse fora deles, como se o remédio, ou algum tipo de tratamento, pudesse aplacar a dor e a angústia.
            Este cenário, que caracterizo, também não está diferente na clínica com crianças. Crianças também estão sendo excessivamente medicadas, com diagnóstico de depressão hiperatividade, dentre outros. Recentemente me deparei com um artigo que o Brasil era o segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
            Na clínica me deparo com muitas crianças medicadas, e afirmo sem medo, indevidamente medicadas. Os argumentos são sempre o comportamento inquieto, a falta de concentração e alguns casos de crianças diagnosticadas com depressão. O que percebo, muitas vezes, na clínica médica, é que essas crianças são medicadas sem nem ao menos serem ouvidas. Os médicos fazem breves perguntas aos pais e em dez minutos de consulta se autorizam a medicar a criança. Um caso, que me espantou no consultório, foi um médico que disse para a mãe de uma criança, com o diagnóstico de depressão, que ela seria medicada até os quinze anos. Mas afinal de contas, de onde ele tirou isso? Por que a criança foi condenada até os 15 anos a tomar medicação? Qual o argumento para isso? Na verdade não há argumentos, apenas uma clínica vazia de conceitos, fazia de escuta e fazia de humanidade.

            Lidar com saúde mental é lidar com o subjetivo. É lidar com aquilo que não é palpável, é lidar com a história de um sujeito, é lidar com uma dinâmica familiar, é lidar com um campo sem garantias. Assim, a investigação, a observação e a escuta são imprescindíveis. Em qualquer clínica que se pratique a saúde mental, sendo médica ou não, o sujeito deve ser ouvido, sendo, muitas vezes, um processo que não se esgotará em apenas um encontro. Independente de serem adultos ou crianças, esses sujeitos precisam ser ouvidos e acolhidos em seu sofrimento. Eu resumiria a clínica em saúde mental em apenas uma palavra: ESCUTA. 


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