Ultimamente tenho me
deparado com frequência, com reportagens e artigos, sobre o tema violência
obstétrica, na qual, se caracteriza por uma apropriação do corpo e processo
reprodutivo das mulheres pelos profissionais de saúde. Acredito que tal tema
seja pertinente e importante para ser discutido, porém, o termo violência
obstétrica me faz pensar sobre um outro termo, tão importante quanto, a
violência psiquiátrica, que se caracteriza pela apropriação do sofrimento psíquico de um
sujeito, ou seja, eu, como profissional de saúde mental, tenho a cura para seu
sofrimento psíquico, sei mais sobre seu sofrimento do que você.
Muito nos deparamos com sujeitos excessivamente medicados
com psicotrópicos, além de imposições de profissionais de diversas áreas da
saúde mental, para modos de tratamento. Pessoas que, a cada ano que passa, mais
são medicadas e por consequência são ainda mais dependentes dos remédios. E o
sofrimento psíquico como fica? E a reflexão sobre esse sofrimento? Com o que
ele tem a ver? Por que o sujeito sofre? O que o sofrimento tem a ver com o
sujeito? Parece que, para estes sujeitos, o sofrimento emocional não tem nada a
ver com eles, como se estivesse fora deles, como se o remédio, ou algum tipo de
tratamento, pudesse aplacar a dor e a angústia.
Este cenário, que caracterizo, também não está diferente
na clínica com crianças. Crianças também estão sendo excessivamente medicadas,
com diagnóstico de depressão hiperatividade, dentre outros. Recentemente me
deparei com um artigo que o Brasil era o segundo maior consumidor de Ritalina
do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Na clínica me deparo com muitas crianças medicadas, e
afirmo sem medo, indevidamente medicadas. Os argumentos são sempre o
comportamento inquieto, a falta de concentração e alguns casos de crianças
diagnosticadas com depressão. O que percebo, muitas vezes, na clínica médica, é
que essas crianças são medicadas sem nem ao menos serem ouvidas. Os médicos
fazem breves perguntas aos pais e em dez minutos de consulta se autorizam a
medicar a criança. Um caso, que me espantou no consultório, foi um médico que
disse para a mãe de uma criança, com o diagnóstico de depressão, que ela seria
medicada até os quinze anos. Mas afinal de contas, de onde ele tirou isso? Por
que a criança foi condenada até os 15 anos a tomar medicação? Qual o argumento
para isso? Na verdade não há argumentos, apenas uma clínica vazia de conceitos,
fazia de escuta e fazia de humanidade.
Lidar com saúde mental é lidar com o subjetivo. É lidar
com aquilo que não é palpável, é lidar com a história de um sujeito, é lidar
com uma dinâmica familiar, é lidar com um campo sem garantias. Assim, a
investigação, a observação e a escuta são imprescindíveis. Em qualquer clínica
que se pratique a saúde mental, sendo médica ou não, o sujeito deve ser ouvido,
sendo, muitas vezes, um processo que não se esgotará em apenas um encontro. Independente
de serem adultos ou crianças, esses sujeitos precisam ser ouvidos e acolhidos
em seu sofrimento. Eu resumiria a clínica em saúde mental em apenas uma
palavra: ESCUTA.
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