Quando menciono a
palavra dor, não me refiro a uma dor dramática, de uma situação trágica, que
tenha acontecido na vida da criança, como morte, separação e grandes perdas.
Refiro-me a dores cotidianas, a frustação, falta de dinheiro, desentendimento
dos pais, mudança de cidade, etc.
Muitas vezes os pais querem proporcionar para os filhos
uma vida perfeita, ou quase perfeita. A questão é que estamos muito, mas muito
longe da perfeição. Nossa vida é cheia de dificuldade, perrengues e limitações,
assim, por que não permitir que as crianças participem dessas dificuldades? Por
que poupar a criança da situação que a família está passando? Que o dinheiro
está curto, que não dá pra comprar um grande presente de natal, apenas uma
lembrancinha e que, aquele tênis da moda vai ter que ficar para ano que vem.
Percebo os pais se queixando do quanto às crianças são
ansiosas, do quanto elas não sabem esperar, do quanto elas querem tudo no tempo
delas, assim, eles procuram um psicólogo para que a criança possa lidar com
essa ansiedade, mas, essa tal ansiedade, tem a ver com o que?
Talvez os próprios pais, ainda não tenham percebido que
eles mesmos não estão ensinando a criança esperar, lidar com a dificuldade, ou
seja, lidar com o que chamei no título desse artigo de dor. Quer colo? Ofereço
colo. Quer a chupeta? Toma a chupeta. Quer ir ao McDonalds? Vamos ao McDonalds.
Quer tal brinquedo? Ofereço tal brinquedo. Quer ir à Disney? Vou comprar a
passagem.
Como essas crianças vão lidar com a frustação? Como elas
vão ter a noção da situação financeira de suas famílias? Como elas vão saber da
realidade da qual fazem parte?
Parece
que os pais se esforçam, enormemente, em proporcionar aos filhos um conto de
fadas. Uma vida sem restrições, sem limites, sem frustações. A vida não é
perfeita. Não é para mim, não é para você e nem para as crianças.
Para
à criança não se pergunta o que ela quer comer, que horas ela quer dormir, o
que ela quer ver na televisão, se ela quer sair com os pais ou não. Uma criança
não tem condições de decidir, afinal, ela é um ser imaturo e ainda tem muitas
coisas para aprender antes de tomar decisões.
Muitas
vezes o que causa ansiedade na criança é que ela tem que decidir sem ter
condições pra isso. Assim os pais devem decidir por ela, mesmo que isso cause
transtornos para a criança, mesmo que a decisão dos pais não vá de encontro ao
que a criança deseja, dessa forma, ela aprende a se frustrar e percebe que nem
tudo é do jeito dela.
A
dor existe e devemos conviver com ela.
Pra
encerrar o artigo cito o título de uma obra de Rubem Alves: “Ostra feliz não
faz pérola”, ou seja, através das frustações as crianças irão encontrar formas
criativas para lidar com os problemas.
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