terça-feira, 22 de setembro de 2015

Como ensinar às crianças que existe dor?

Quando menciono a palavra dor, não me refiro a uma dor dramática, de uma situação trágica, que tenha acontecido na vida da criança, como morte, separação e grandes perdas. Refiro-me a dores cotidianas, a frustação, falta de dinheiro, desentendimento dos pais, mudança de cidade, etc.
            Muitas vezes os pais querem proporcionar para os filhos uma vida perfeita, ou quase perfeita. A questão é que estamos muito, mas muito longe da perfeição. Nossa vida é cheia de dificuldade, perrengues e limitações, assim, por que não permitir que as crianças participem dessas dificuldades? Por que poupar a criança da situação que a família está passando? Que o dinheiro está curto, que não dá pra comprar um grande presente de natal, apenas uma lembrancinha e que, aquele tênis da moda vai ter que ficar para ano que vem.
            Percebo os pais se queixando do quanto às crianças são ansiosas, do quanto elas não sabem esperar, do quanto elas querem tudo no tempo delas, assim, eles procuram um psicólogo para que a criança possa lidar com essa ansiedade, mas, essa tal ansiedade, tem a ver com o que?
            Talvez os próprios pais, ainda não tenham percebido que eles mesmos não estão ensinando a criança esperar, lidar com a dificuldade, ou seja, lidar com o que chamei no título desse artigo de dor. Quer colo? Ofereço colo. Quer a chupeta? Toma a chupeta. Quer ir ao McDonalds? Vamos ao McDonalds. Quer tal brinquedo? Ofereço tal brinquedo. Quer ir à Disney? Vou comprar a passagem.
            Como essas crianças vão lidar com a frustação? Como elas vão ter a noção da situação financeira de suas famílias? Como elas vão saber da realidade da qual fazem parte?
Parece que os pais se esforçam, enormemente, em proporcionar aos filhos um conto de fadas. Uma vida sem restrições, sem limites, sem frustações. A vida não é perfeita. Não é para mim, não é para você e nem para as crianças.
Para à criança não se pergunta o que ela quer comer, que horas ela quer dormir, o que ela quer ver na televisão, se ela quer sair com os pais ou não. Uma criança não tem condições de decidir, afinal, ela é um ser imaturo e ainda tem muitas coisas para aprender antes de tomar decisões.
Muitas vezes o que causa ansiedade na criança é que ela tem que decidir sem ter condições pra isso. Assim os pais devem decidir por ela, mesmo que isso cause transtornos para a criança, mesmo que a decisão dos pais não vá de encontro ao que a criança deseja, dessa forma, ela aprende a se frustrar e percebe que nem tudo é do jeito dela.
A dor existe e devemos conviver com ela.
Pra encerrar o artigo cito o título de uma obra de Rubem Alves: “Ostra feliz não faz pérola”, ou seja, através das frustações as crianças irão encontrar formas criativas para lidar com os problemas.

           

           



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