terça-feira, 15 de setembro de 2015

Problemas de aprendizagem?

Uma das queixas mais recorrentes para encaminhar crianças para acompanhamento psicológico é o fracasso escolar. Dificuldade de alfabetização é o problema mais comum, dentre os problemas de aprendizagem. Crianças com seis, sete, oito anos e até mais velhas, aparecem na clínica, encaminhadas pela escola, muitas vezes não alfabetizadas ou semi alfabetizadas. Mas qual o problema dessas crianças? Elas teriam realmente problemas para aprender? Elas teriam alguma incapacidade para concentração? Elas seriam muito agitadas, por isso não aprendem? Elas teriam algum problema neurológico que as impeça de aprender?
Percebo que a maioria dessas crianças não tem nenhum problema neurológico ou cognitivo que as incapacite em aprender. Assim, a pergunta persiste, por que não aprendem? No período de avaliação com elas, percebo a grande capacidade que têm para aprender, memorizar, argumentar, discutir alguma questão que as interesse. Porém, em situação de sala de aula, essa capacidade não aparece e o que realça são cadernos vazios, notas abaixo da média e ausência de participação em sala de aula. Dentro desse contexto, acredito que podemos refletir em dois pontos importantes que podem afetar em tal questão:
1-        Instituição Educacional – já passou da hora da instituição educacional                                    questionar a sua forma de atuação. É notório que o movimento que a educação faz é culpabilizar o aluno em vez de promover uma reflexão sobre o que pode ser mudado nessa relação. A educação tenta uniformizar os alunos de forma a exigir um desempenho semelhante entre eles, porém, dentro desta perspectiva, se perde de vista a singularidade do sujeito nesse processo, pois nem todas as crianças “funcionam” de forma igual. Por exemplo, uma criança de seis anos pode estar preparada ou não para o processo de alfabetização e não tem nada de errado nessa diferença. Outro ponto de destaque é a ausência dos meios de tecnologia em sala de aula. A internet não pode estar fora da sala de aula. As crianças já nascem inseridas nesse meio tecnológico, assim, já criam uma intimidade com o mesmo. Quando vão para a escola, onde está o computador? Onde estão os recursos tecnológicos? O conhecimento já não pode ser mensurado como há tempos atrás. Na minha época de criança, ter acesso ao conhecimento, só por meio da professora, ou através de uma pesquisa na biblioteca. Hoje em dia a criança já entra em sala de aula com um conhecimento prévio e isso não é explorado pelo professor, que é instruído a ficar preso em um cronograma e metodologias pré-estabelecidas. Assim questiono a vocês, essa escola é interessante para esses alunos?
2-               Responsabilizar as crianças sobre o processo de aprendizagem: em alguns casos percebo que os pais não têm responsabilizado seus filhos para aprender. Quem não estuda não aprende, quem não pesquisa não aprende, quem não se esforça não aprende, não é simples? Vejo os pais fazendo lição, fazendo pesquisa, organizando os cadernos dos filhos, mas isso não seria função das crianças. Não são as crianças que devem mostrar para os pais a lição feita? Os pais não deveriam apenas servir de suporte? Uma criança me disse uma vez que não entregou o dever de casa por culpa da mãe. Perguntei para a criança o que a mãe tinha a ver com a lição dela, ao que ela não excitou em responder que era a mãe que deveria realizar a lição. Para aprender é necessário ser responsável. Assumir minimamente a responsabilidade nesse processo é fundamental para adquirir conhecimento, pois ninguém pode aprender por nós, ninguém pode fazer esse serviço pra gente. Incentivar as crianças a buscar conhecimento é importante para que elas se sintam mais ativas nesse processo, para que percebem suas próprias habilidades e interesses. A criança que é responsabilizada por aprender, se sente mais curiosa e propícia a buscar seu próprio conhecimento.
Se analisarmos esses dois pontos atentamente, podemos nos deparar com questões contraditórias, como: a criança já tem um conhecimento prévio e a criança precisa ser incentivada a buscar o conhecimento. O acesso ao conhecimento, atualmente, está muito mais acessível do que na minha infância e, justamente, por essa facilidade as crianças perdem o interesse em buscar e se limitam a ficar atentas apenas àquilo que elas gostam, como jogos na internet.
A internet poderia ser uma aliada para incentivar às crianças a buscar o conhecimento, e não uma inimiga. Como diria o ditado, se você não pode vencer o inimigo junte-se a ele. O tempo passou e as ferramentas de ensino devem mudar, as escolas precisam se adequar a isso. Mas uma coisa permanece a mesma, sem esforço ninguém consegue nada.






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