Uma
das queixas mais recorrentes para encaminhar crianças para acompanhamento
psicológico é o fracasso escolar. Dificuldade de alfabetização é o problema
mais comum, dentre os problemas de aprendizagem. Crianças com seis, sete, oito
anos e até mais velhas, aparecem na clínica, encaminhadas pela escola, muitas
vezes não alfabetizadas ou semi alfabetizadas. Mas qual o problema dessas
crianças? Elas teriam realmente problemas para aprender? Elas teriam alguma
incapacidade para concentração? Elas seriam muito agitadas, por isso não
aprendem? Elas teriam algum problema neurológico que as impeça de aprender?
Percebo
que a maioria dessas crianças não tem nenhum problema neurológico ou cognitivo
que as incapacite em aprender. Assim, a pergunta persiste, por que não
aprendem? No período de avaliação com elas, percebo a grande capacidade que têm
para aprender, memorizar, argumentar, discutir alguma questão que as interesse.
Porém, em situação de sala de aula, essa capacidade não aparece e o que realça
são cadernos vazios, notas abaixo da média e ausência de participação em sala
de aula. Dentro desse contexto, acredito que podemos refletir em dois pontos
importantes que podem afetar em tal questão:
1-
Instituição
Educacional – já passou da hora da instituição educacional questionar
a sua forma de atuação. É notório que o movimento que a educação faz é
culpabilizar o aluno em vez de promover uma reflexão sobre o que pode ser
mudado nessa relação. A educação tenta uniformizar os alunos de forma a exigir
um desempenho semelhante entre eles, porém, dentro desta perspectiva, se perde
de vista a singularidade do sujeito nesse processo, pois nem todas as crianças
“funcionam” de forma igual. Por exemplo, uma criança de seis anos pode estar
preparada ou não para o processo de alfabetização e não tem nada de errado
nessa diferença. Outro ponto de destaque é a ausência dos meios de tecnologia
em sala de aula. A internet não pode estar fora da sala de aula. As crianças já
nascem inseridas nesse meio tecnológico, assim, já criam uma intimidade com o
mesmo. Quando vão para a escola, onde está o computador? Onde estão os recursos
tecnológicos? O conhecimento já não pode ser mensurado como há tempos atrás. Na
minha época de criança, ter acesso ao conhecimento, só por meio da professora,
ou através de uma pesquisa na biblioteca. Hoje em dia a criança já entra em sala
de aula com um conhecimento prévio e isso não é explorado pelo professor, que é
instruído a ficar preso em um cronograma e metodologias pré-estabelecidas.
Assim questiono a vocês, essa escola é interessante para esses alunos?
2-
Responsabilizar
as crianças sobre o processo de aprendizagem: em alguns casos percebo que os
pais não têm responsabilizado seus filhos para aprender. Quem não estuda não
aprende, quem não pesquisa não aprende, quem não se esforça não aprende, não é
simples? Vejo os pais fazendo lição, fazendo pesquisa, organizando os cadernos
dos filhos, mas isso não seria função das crianças. Não são as crianças que
devem mostrar para os pais a lição feita? Os pais não deveriam apenas servir de
suporte? Uma criança me disse uma vez que não entregou o dever de casa por
culpa da mãe. Perguntei para a criança o que a mãe tinha a ver com a lição
dela, ao que ela não excitou em responder que era a mãe que deveria realizar a
lição. Para aprender é necessário ser responsável. Assumir minimamente a responsabilidade
nesse processo é fundamental para adquirir conhecimento, pois ninguém pode
aprender por nós, ninguém pode fazer esse serviço pra gente. Incentivar as
crianças a buscar conhecimento é importante para que elas se sintam mais ativas
nesse processo, para que percebem suas próprias habilidades e interesses. A
criança que é responsabilizada por aprender, se sente mais curiosa e propícia a
buscar seu próprio conhecimento.
Se
analisarmos esses dois pontos atentamente, podemos nos deparar com questões contraditórias,
como: a criança já tem um conhecimento prévio e a criança precisa ser
incentivada a buscar o conhecimento. O acesso ao conhecimento, atualmente, está
muito mais acessível do que na minha infância e, justamente, por essa facilidade
as crianças perdem o interesse em buscar e se limitam a ficar atentas apenas
àquilo que elas gostam, como jogos na internet.
A
internet poderia ser uma aliada para incentivar às crianças a buscar o
conhecimento, e não uma inimiga. Como diria o ditado, se você não pode vencer o
inimigo junte-se a ele. O tempo passou e as ferramentas de ensino devem mudar,
as escolas precisam se adequar a isso. Mas uma coisa permanece a mesma, sem
esforço ninguém consegue nada.
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