Na semana passada nos
deparamos com um vídeo nas redes sociais, em que uma criança destruía a sala de
aula, enquanto professores e funcionários da escola filmavam a cena. Achei,
particularmente, a iniciativa de filmar a criança, absolutamente inadequada,
pior ainda, disponibilizar este vídeo na internet, expondo o aluno em questão,
porém já que a cena está viralizando na internet, achei por bem comentá-la.
Gostaria de destacar alguns pontos dessa cena. Os
professores pareciam filmar, como forma de adquirir uma prova do comportamento
inadequado do aluno. Este ponto me chamou muita atenção. Como profissionais que,
teoricamente estão preparados para lidar com crianças, simplesmente se
paralisam diante de uma situação em que a criança está em “surto”? Por que
ninguém pode conter a criança até que ela se acalme? Por que ninguém pode
segurá-la e aos poucos, conversar com ela? Por que ninguém pode tentar intervir
diante dessa situação? Eu mesma já contive diversas crianças em situação
institucional. Muitas vezes, as crianças não sabem como lidar com algumas situações,
porém, nós adultos e profissionais que trabalhamos com crianças, devemos estar
preparados para tratar com esta demanda. Não lidamos só com crianças boazinhas,
educadinhas, quietinhas e comportadas, devemos estar disponíveis para tratar
com todo tipo de criança e as situações que podemos enfrentar no dia a dia,
podem ser as mais inusitadas.
Outro questionamento é: por que essa criança fez isso?
Por que ela teve esse comportamento agressivo e violento? A partir dessas
questões me deparei, nas páginas sociais, com diversas publicações com teorias
que justificavam o comportamento do garoto, o que considero um absurdo,
simplesmente, porque não sabemos porque ele fez isso e não podemos saber, até
ouvir a criança e seus familiares. Teorias sobre o fato de que o aluno cometeu
essa ação porque sofre violência dentro de casa e que, por consequência, o seu
comportamento tem relação com essa violência, é simplesmente algo que não
podemos afirmar. Teorias sobre o fato de que essa criança não tem educação em
casa e será um futuro “bandidinho” também é precipitada, pois, estamos condenando
uma criança que nem mesmo conhecemos.
Não
sabemos o que esse garoto vivência e criar uma suposição para isso é
simplesmente desconsiderar a escuta do menino e da família, o que acredito ser
um ato preconceituoso e cheio de
julgamentos. O que vejo no cotidiano das escolas e instituições que atendem
crianças, são julgamentos do tipo: se essa criança se comporta assim é porque
ela passa por isso, ou por aquilo, é porque a família dela é assim, ou assado.
Os
que julgam que compreendem as crianças e se dizem defensores dos direitos das
mesmas, ao analisarem a situação dessa criança e determinarem que o
comportamento dela tenha relação com uma dada situação, que ela vivência em
casa, estão sendo absolutamente precipitados.
Não
descarto a possibilidade de o menino viver em um contexto de violência, não só
em casa, assim como na comunidade em que está inserido. Já tive a oportunidade
de trabalhar em uma instituição que atendia crianças e adolescentes em situação
de rua, o que me lembrou muito o comportamento desse garoto. Os meninos dessa
instituição não tinham noção de limite e respeito, pois, eles viviam na rua e a
rua é um espaço público e livre, teoricamente, eles poderiam circular
livremente nesse espaço. Já na instituição, tinham regras e limites e, muitas
vezes, quando não concordavam com as regras, destruíam o que viam pela frente,
frequentemente, tínhamos que contê-los. Porém, conseguíamos estabelecer, aos
poucos, uma relação de confiança e reciprocidade, mas para isso acontecer,
tínhamos que fazer uma aposta naquela criança, tínhamos que dar uma
oportunidade para ela, tínhamos que ter paciência.
Outra
possibilidade pode ser que a criança não viva em uma situação de falta
(violência doméstica, ausência dos pais, descaso, abandono e outros tipos de
negligência), mas uma situação de excesso (pais permissivos, que não impõem
limites, que disponibilizam para a criança o que ela quer, no tempo que ela
deseja).
Qual
dessa situação fazia parte do contexto desse garoto? Ou será que não é nenhuma
delas, mas alguma outra que não pude citar, por fazer parte do ambiente privado
da família, ou até mesmo por fazer parte do âmbito institucional da escola,
afinal, outro ponto a ser analisado nessa cena seria a relação do aluno com a
escola.
Não
podemos pré-julgar um comportamento de uma criança sem ouvi-la, sem conhecer o
contexto que ela está inserida, sem conhecer a história de sua família.
As
crianças não precisam ser julgadas, mas sim ouvidas. Mesmo quando a situação de
pré-julgamento parece ser bem intencionada e politicamente correta.
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