terça-feira, 6 de outubro de 2015

Queixa escolar: a escola que adoece

                Muito tenho pensado sobre as queixas escolares que recebo no consultório. As crianças são encaminhas para médicos, psicólogos, fonoaudiólogos com suspeita de terem déficit de atenção e/ou hiperatividade, ou algum outro problema que as impeça de aprender.
            Em avaliação com as crianças, com queixa escolar, percebo o quanto elas têm recursos cognitivos e total capacidade de aprender. Emocionalmente, muitas vezes, essas crianças também não parecem ter qualquer tipo de inibição, assim, por que elas não aprendem? Para mim essa questão tem sido cada dia, mais inquietadora, o que me leva a questionar o sistema escolar.
            É fato que o sistema escolar está ultrapassado. As disciplinas, a metodologia, a didática. O sistema de ensino parece não se adequar, às mudanças sociais, tecnológicas, e econômicas.
            Considero o currículo escolar inadequado, pois permanece o mesmo desde há muito tempo. Os alunos não têm espaço de criação, busca do conhecimento, de forma que, a criança deve se adaptar a fórceps ao currículo, e aquelas que não se adequarem provavelmente terão uma consulta marcada com o psicólogo e neuropediatra.
            Por que a escola não abre espaço para criação, discussões sobre economia, empreendedorismo, política, e outras experiências fora do atual currículo? Por que o conhecimento mais enfatizado está no currículo formal? Saímos da escola e nos questionamos, para que serviu tudo isso? Onde vou aplicar esses conhecimentos? Conhecimentos que muitas vezes não têm absolutamente nada a ver com as afinidades do sujeito, assim, ele sai da escola e a partir das experiências, fora da escola, seu conhecimento, de fato, começará a se formar. A escola não dá espaço para a individualidade, para que as crianças conheçam suas verdadeiras habilidades, para que possam imprimir seus talentos e aptidões. A escola oprime, deprime, faz com o sujeito se sinta incapaz, principalmente àqueles que não conseguem atingir as expectativas do sistema de ensino.
            As crianças que são encaminhadas para médicos e psicólogos são na verdade, crianças brilhantes, crianças criativas, crianças inovadoras que não têm espaço para expor suas potencialidades. Essas potencialidades devem assim, ser reprimidas. A criança deve se adaptar, mas essa adaptação tem um alto custo, a doença.
            Não estou negando o fato de algumas crianças terem algum tipo de inibição emocional que possa afetar a aprendizagem. Esses casos existem e precisam de acompanhamento, porém, me chama muito atenção o excessivo número de crianças que são encaminhadas para médicos e psicólogos. Elas são todas doentes? Será que estamos falando de uma epidemia? Só consigo imaginar, que tais encaminhamentos se tratam de uma epidemia que está atingindo as crianças na modernidade.
            Crianças sem espaço na escola se tornam crianças doentes e por consequência adultos doentes. Essa dificuldade de adequação causa à criança um grande sofrimento. Ela não consegue corresponder às expectativas e por consequência, se sente fracassada e incapaz. Constrói uma identidade em trono de um fracasso, que nem mesmo é real. A partir disso uma demanda para tratamento realmente se constrói. Essas crianças se tornam inseguras, estressadas, com fobia à escola e com medo de cometerem erros e serem repreendidas.
            O erro faz parte do processo de aprendizagem, é um indicativo de nossa forma de ser, de nossas habilidades e o que devemos melhorar. Lidar com estas questões como uma patologia, pode ter consequências avassaladoras para as crianças.

            Vamos permitir as crianças serem criativas e inovadores, em vez de serem crianças doentes. Que lugar vale mais a pena?


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