terça-feira, 20 de outubro de 2015

E quando a separação acontece?

         Quando um casal se separa, a dor é compartilhada por toda a família. Não só as crianças sentem muito a separação dos pais, assim como os próprios pais, que precisam lidar com o fato de que toda a expectativa de felicidade, construção de uma família, planos para o futuro, acaba de ser destruído. Desta maneira, os pais devem novamente reconstruir suas vidas e lidar com a frustação do fim de um relacionamento.
            Muitos pais levam a criança para psicoterapia, por estarem em processo de separação e temem que algo possa repercutir na criança, mesmo quando a criança, em algumas situações, não apresenta alteração no comportamento. Na entrevista com a mãe ou o pai, percebo, algumas vezes, que a dor está muito maior para eles do que para a própria criança. Desta maneira, em situação de separação devemos estar muito atentos ao fato de como os pais estão encarando o momento. Muito da repercussão, nessa ocasião, tem a ver de como os pais estão lidando.
            Rancor, raiva, ressentimento, mágoa, são sentimentos que inevitavelmente os pais podem endereçar aos filhos, sem que tenham o controle sobre isso. Nesse processo a mãe pode agredir o pai, o pai difamar a mãe e assim os filhos ficam sofrendo com o destino dessa separação.
            Acredito que, muitas vezes, uma separação é inevitável. Os pais não conseguem conviver juntos, se agridem, se magoam e não mais desfrutam da presença do outro. As crianças presenciarem esse tipo de relação não é nada saudável, assim, é melhor que os pais assumam a impossibilidade de conviverem juntos, possibilitando, um ao outro, a chance de ser feliz. A separação é um direito que os pais têm, nunca temos a garantia de que um relacionamento irá dar certo. Mas os pais têm a responsabilidade de executar esse processo da melhor maneira possível para os filhos e, essa melhor maneira possível, tem a ver com um não agredir o outro. Uma criança sempre vai amar os pais da mesma maneira, assim, elas não querem ouvir falar mal de seu pai ou sua mãe.
            Rubem Alves escreveu um livro infantil que trata sensivelmente da separação entre os pais. O livro de tão poético, chega a ser difícil para o linguajar infantil, porém, a poesia ressoa aos ouvidos de forma tão singela que quando leio este livro para as crianças percebo o quanto elas são atingidas pela mensagem sem que eu explique muita coisa.
            A história retrata o amor da selva (pai) e do mar (mãe). Por serem de universos tão diferentes eles se apaixonaram um pelo outro, apaixonaram pelas diferenças da qual viviam e um queria explorar o universo do outro, assim, dessa paixão, nasceu uma criança. Primeiramente, o mar foi morar na selva, mas ela não conseguiu se adaptar e sentiu muita falta do ambiente marinho. Percebendo que o mar estava triste, a selva se disponibilizou a morar no mar. Mas dessa vez a selva que passou a ficar triste, pois ele não se adaptou ao mar e não conseguiu ficar afastado dos mistérios e encantos da selva.
            Percebendo que juntos eles estavam muito tristes resolvem se separar para que possam resgatar a felicidade que morava dentro deles. E a criança? Bem, a criança continua sendo selva e mar. Ela se sente a vontade no ambiente marinho e conhece cada detalhe da selva e isso nunca poderá ser mudado.
            Deixem que seus filhos sejam selva e mar, deixem que eles circulem no ambiente paterno e materno, sem medo ou receio em estar fazendo isso, dessa forma, a separação tende a ser o menos traumática.
            E se os pais não conseguem lidar com o momento da separação, que legitimamente, é um momento difícil, não hesitem em procurar ajuda que, muitas vezes, não é apenas para a criança, mas principalmente para os adultos.
           


            

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