Quando um casal se
separa, a dor é compartilhada por toda a família. Não só as crianças sentem
muito a separação dos pais, assim como os próprios pais, que precisam lidar com
o fato de que toda a expectativa de felicidade, construção de uma família,
planos para o futuro, acaba de ser destruído. Desta maneira, os pais devem
novamente reconstruir suas vidas e lidar com a frustação do fim de um
relacionamento.
Muitos pais levam a criança para psicoterapia, por
estarem em processo de separação e temem que algo possa repercutir na criança,
mesmo quando a criança, em algumas situações, não apresenta alteração no
comportamento. Na entrevista com a mãe ou o pai, percebo, algumas vezes, que a dor
está muito maior para eles do que para a própria criança. Desta maneira, em
situação de separação devemos estar muito atentos ao fato de como os pais estão
encarando o momento. Muito da repercussão, nessa ocasião, tem a ver de como os
pais estão lidando.
Rancor, raiva, ressentimento, mágoa, são sentimentos que
inevitavelmente os pais podem endereçar aos filhos, sem que tenham o controle
sobre isso. Nesse processo a mãe pode agredir o pai, o pai difamar a mãe e assim
os filhos ficam sofrendo com o destino dessa separação.
Acredito que, muitas vezes, uma separação é inevitável. Os
pais não conseguem conviver juntos, se agridem, se magoam e não mais desfrutam
da presença do outro. As crianças presenciarem esse tipo de relação não é nada
saudável, assim, é melhor que os pais assumam a impossibilidade de conviverem
juntos, possibilitando, um ao outro, a chance de ser feliz. A separação é um
direito que os pais têm, nunca temos a garantia de que um relacionamento irá
dar certo. Mas os pais têm a responsabilidade de executar esse processo da
melhor maneira possível para os filhos e, essa melhor maneira possível, tem a
ver com um não agredir o outro. Uma criança sempre vai amar os pais da mesma
maneira, assim, elas não querem ouvir falar mal de seu pai ou sua mãe.
Rubem Alves escreveu um livro infantil que trata
sensivelmente da separação entre os pais. O livro de tão poético, chega a ser
difícil para o linguajar infantil, porém, a poesia ressoa aos ouvidos de forma
tão singela que quando leio este livro para as crianças percebo o quanto elas
são atingidas pela mensagem sem que eu explique muita coisa.
A história retrata o amor da selva (pai) e do mar (mãe).
Por serem de universos tão diferentes eles se apaixonaram um pelo outro,
apaixonaram pelas diferenças da qual viviam e um queria explorar o universo do
outro, assim, dessa paixão, nasceu uma criança. Primeiramente, o mar foi morar
na selva, mas ela não conseguiu se adaptar e sentiu muita falta do ambiente
marinho. Percebendo que o mar estava triste, a selva se disponibilizou a morar
no mar. Mas dessa vez a selva que passou a ficar triste, pois ele não se
adaptou ao mar e não conseguiu ficar afastado dos mistérios e encantos da
selva.
Percebendo que juntos eles estavam muito tristes resolvem
se separar para que possam resgatar a felicidade que morava dentro deles. E a
criança? Bem, a criança continua sendo selva e mar. Ela se sente a vontade no
ambiente marinho e conhece cada detalhe da selva e isso nunca poderá ser
mudado.
Deixem que seus filhos sejam selva e mar, deixem que eles
circulem no ambiente paterno e materno, sem medo ou receio em estar fazendo
isso, dessa forma, a separação tende a ser o menos traumática.
E se os pais não conseguem lidar com o momento da
separação, que legitimamente, é um momento difícil, não hesitem em procurar
ajuda que, muitas vezes, não é apenas para a criança, mas principalmente para
os adultos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário